quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Adoração dos Reis Magos do Mestre Vasco Fernandes, mais conhecido por Grão Vasco


Adoração dos Reis Magos, 1501-6, óleo sobre madeira, 130,2 x 79cm, Museu Grão Vasco, Viseu

Explicação do motivo da inserção de um índio no papel de um dos três Reis Magos:
Apesar de uma oficina bem distante do mar, Vasco Fernandes e seus discípulos, não deixaram por isso de receber as novidades da epopeia expansionista, que percorria então diversos continentes. O intercâmbio económico que era possível realizar entre povos diversos, permitiu uma abertura às correntes estéticas europeias, bem como a existência de elementos identificativos desse mundo (re)descoberto, desses novos mundos que Portugal dava ao Mundo, que integrariam as suas preciosas obras de arte: a mais flagrante obra sintomática deste facto é a célebre Epifania, que hoje se pode encontrar no Museu de Grão Vasco, em Viseu, obra sobejamente conhecida por apresentar um dos motivos iconográficos mais interessantes e que, mais contribuiu para a sua popularidade - o índio brasileiro - apresentado neste quadro em substituição do tradicional Mago negro. É um elemento figurativo de um nativo das terras de Vera Cruz (Brasil) então descobertas, tendo apenas decorrido cerca de um a dois anos após o seu achamento.
A inserção desta figura, o primeiro índio brasileiro a ser representado, um índio de etnia Tupinambá, num âmbito religioso, como o é a Adoração dos Reis Magos, cuja única fonte é o Evangelho de Mateus (II, 1-12) tem subjacente um simbolismo, cuja descodificação passa pela pretensa cristianização dos índios "brasileiros", e da extensão do Império Cristão às terras descobertas (Dalila Rodrigues). Esta pretensão, tinha sido expressa por Pêro Vaz de Caminha, aquando do achamento destas novas terras:"Segundo o que a mim e a todos pareceu esta gente, não lhes falece outra cousa para ser toda cristã, cá entenderam-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como a nós mesmos, por onde pareceu a todos nenhuma idolatria nem adoração têm..." (In Dalila Rodrigues (coord.), Grão Vasco e a Pintura Europeia do Renascimento, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1992, p. 91). É o homem imaculado, associado ao Adão e ao paraíso terreno, pelas "coisas maravilhosas até agora nunca antes vistas", é uma tentativa inédita de incluir o Novo Mundo, no mundo já conhecido.
Fisicamente é uma figura cujos atributos representados nos permitem a identificação rápida de um índio, pois é representado com uma plumagem, tão característica destes povos, descalço, com uma lança e outros adornos. Porém, apresenta-se vestido, pois apresentá-lo em completa nudez seria uma ousadia demasiado grande para um quadro de cariz religioso; assim, encontra-se vestido com uma camisola e calções à maneira ocidental.
Outro elemento que nos reporta para a gesta dos Descobrimentos, é a moeda de ouro, oferecida pelos reis Magos, e que o menino Jesus segura na mão. Este ouro, é apontado como símbolo do desejo de encontrar riquezas, mais tarde associadas precisamente às terras de Vera Cruz.

3 comentários:

Unknown disse...

Foi-me útil esta informação obrigada
joana 6ª ano

Unknown disse...

Muito boa a informação, este quadro se encontra aqui no Brasil, no Museu Histórico Nacional.

Unknown disse...

Tanto quanto sei, o quadro original está, em Viseu, no Museu de Grão Vasco. No Museu Histórico Nacional, no Brasil, poderá estar, apenas, uma cópia.