terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Os Ciganos

A parte inicial deste conto tem a assinatura de Sophia de Mello Breyner, foi descoberta por entre o seu espólio literário em 2009 e acredita-se, pela observação da caligrafia da autora, que date de meados dos anos 1960. Informações que a sua filha Maria partilha com os leitores numa nota prévia ao conto inédito Os CiganosPedro, o neto de Sophia e sobrinho de Maria, teve “a ousadia" (palavras do próprio) de o completar. Fez bem (e fê-lo bem).
A história começa assim: “Era uma vez uma casa muito arrumada onde morava um rapaz muito desarrumado. E o rapaz tinha a impressão de que não era feito para morar naquela casa.” Um dia, “com o coração batendo, saltou o muro”. Descobriu os ciganos. Ainda que uma voz interior lhe repetisse “foge destes homens”, Ruy seguiu com eles. E é aqui que Sophia se cala.
Entra o neto, Pedro Sousa Tavares“Nesse instante, as pernas saltaram-lhe para a frente, como se o seu corpo fosse agora uma marioneta, obedecendo a alguma força superior. Tropeçou em cada buraco do caminho. Fez estalar cada galho seco no chão. Por milagre, ninguém se apercebeu da algazarra (…).” A descrição continua até que o rapaz se esconda na carroça e siga viagem. O protagonista há-de voltar a casa mais sábio e habilidoso, assim decidiu o co-autor. As palavras de uma e outro (avó e neto) são grafadas a cores diferentes, azul para Sophia, preto para Pedro. E este espera que o livro seja “lido como um todo”. Objectivo alcançado. Uma nota para a ilustradora Danuta Wojciechowska, que ampliou e iluminou o sentido da narrativa. Com talento.   (Texto divulgado no Público)