
Um dia, o meu canário morreu.
Logo, não percebi muito bem o que lhe tinha acontecido. Depois, descobri que alguma coisa diferente, silenciosa, fria e inesperada, interrompia a vida. Então, fui também semear o canário.
Durante dias e dias aguardei, debaixo da nespereira, que o canário voltasse. Primeiro seria o bico. Depois, os olhitos e, depois ainda, um voo rápido e uma canção.
Passaram-se muitos anos.
Passaram-se muitos anos.
Quando olho lá para trás sei que descobri que a vida é um milagre.
Semear qualquer coisa que fique, que cresça, que deixe um sinal, mesmo pequenino, deve ser o sentido dos nossos dias. E, em certas horas, ainda acredito que o canário voltará. É talvez uma semente que demora um pouco mais que as outras porque tem asas e as asas crescem devagar. Mas eu sei, tendo a certeza que um dia, de repente, no alto duma árvore qualquer eu avistarei essa ave. E conto com vocês que me lêem para me ajudarem a descobri-la. Está bem? "
Maria Rosa Colaço
Trecho tirado da Antologia Diferente "De que são feitos os sonhos?"
Maria Rosa Colaço
Trecho tirado da Antologia Diferente "De que são feitos os sonhos?"
Areal Editores
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